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A maior força, é aquela que vem de você, que está presa à sua alma e mesmo essa força que me detém, não é o suficiente para ser incrível.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

[CONTO] - A Virgem

- Lembra da primeira vez que te vi? Você estava ocupada, concentrada e mal me olhou. Mas eu estava lá, te olhei, te analisei, te montei e desmontei em questão de segundos. Eu te olhava e observava, cada movimento, cada parte de você, seu corpo, sua boca, eu ficava louco. 
- Mas...
- Não terminei, cale-se! Atou a boca da moça com uma larga fita adesiva, quase cobrindo-lhe o nariz, deixando apenas um pequeno espaço para que pudesse respirar com dificuldade.
- Eu apareci, puxei seu braço e pedi informações, eu te fiz me conhecer. Eu te fiz saber quem eu era, ao menos, quem eu mostrava ser, fui mostrando como eu trabalhava, como eu era fantástico, como eu era esperto e admirado por todos. Te fiz enxergar que eu poderia ser muito além do que você esperava, fui te laçando devagar, em pouco tempo você estava completamente presa em meu torvelinho.
E eu que pensava que seria mais difícil... Bobagem! Você estava caída por mim! Te levei em locais que você nunca tinha ido antes, te dei presentes e ilusões. Te dei o que você queria, o que você nunca tinha experimentado antes.
E eu olhava pra você, te fazia me olhar, te beijei, te fiz ficar feliz, você estava em minhas mãos e foi tão fácil! Com o tempo fui te impondo coisas, impondo desejos, impondo minhas vontades, você resistia, tentava dizer que não... Mas eu fui mais forte, eu sempre fui mais forte! Consegui tudo o que eu queria.
Te fiz sair e entrar em cena quando eu bem entendia, você era meu fantoche, meu brinquedinho. E eu te obrigada a saciar as minhas vontades, os meus desejos, eu te olhava com carinho - ao menos era o que você achava - e você atendia a cada pedido meu. 
Você me amava a cada dia que passava, eu te agradava, mesmo eu sendo um tanto maníaco por certas vontades, mas você gostava de mim, eu te falava segredos de liquidificador.
Doce menina, eu até que gostava de você, sabia? Gargalhadas e olhares insanos, estava louco, arrodeava a garota tocando em seus cabelos ruivos e arfando em seu singelo rosto de medo.

- Eu era tão mais experiente que você... Isso com toda certeza te fascinava! Eu era sagaz, divertido, você adorava! Gostava dos meus olhos, dizia que pareciam olhos de criança, meigos e singelos. Mal sabia você que por trás desses olhos morava um monstro. Agora você realmente sabe muito bem! Pegou uma faca e cortava lentamente o corpo amarrado da jovem, fazendo pequenos retalhos de tecido epitelial.

- Você era uma mocinha... Era! Te fiz ser uma pura vadia, tão infeliz quanto um cão sem dono, iludida como uma meretriz de rua, achando que tudo daria certo. Enquanto você se sentia culpada, suja, eu me sentia feliz e muito satisfeito. Eu tinha você completamente pra mim, a qualquer hora. E nossas viagens e passeios, esses eram os melhores momentos! Eu não tinha que me esconder dos conhecidos e podia fazer o que bem entender com você. 

- E agora... Você não me serve mais! Eu não te quero, na verdade só te quero de uma forma... MORTA! 

Esfaqueada lentamente, jorrava do corpo frágil e ainda mais pálido, o sangue mais rubro e mais puro daquela cidade. Ali desfalecia lentamente, facada por facada, a virgem que entregou seu coração ao mais vil vilão.


                                            Alcantara Coimbra



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