Esta é minha última semana como detento na Penitenciária Estadual
da Filadélfia. Eu ainda não entendo o porquê disso, mas o
psicólogo desse lugar disse que esse relato ficaria guardado lá.
Seria como uma pesquisa de como os detentos sentiam-se quando estavam
perto da liberdade. Bom eu sempre detestei escrever redações, mas
sou obrigado a isso.
Meu nome é Mike Evan Turner, daqui a uma semana eu cumpro sete anos
de detenção por assassinato e tortura. Eu realmente não me
arrependo do que fiz e nunca irei me arrepender. Não me coloco como
um doente ou psicopata, eu fiz e cumpri o que eu prometi a mim mesmo.
Vingança.
Eu tinha onze anos de idade, morava em University City, centro da
Filadélfia, com minha irmã mais velha Mellody e minha mãe Rachel.
Éramos apenas nós três, meu pai havia morrido com um câncer
cerebral há cinco anos e nós nos mudamos de Chester para a
Filadélfia. Logo fizemos amizades com todos os vizinhos da rua. Era
um bairro tranqüilo e pacato de se viver, a única violência
ocorrida por lá eram os constantes assaltos, mas nada que pudesse
fazer de University City um lugar violento.
As brigas entre eu e Mellody eram constantes, não tínhamos um bom
relacionamento, talvez fosse mais por minha culpa que culpa dela. Mel
tinha quatorze anos e longos cabelos lisos e negros, com olhos azuis
e um sorriso encantador. Ainda hoje eu sofro com tudo o que
aconteceu. Eu costumava demorar no banheiro para que Mellody ficasse
muito irritada, aquilo me fazia rir, suas bochechas vermelhas e seu
olhar de furiosa.
Neste dia, eu não a irritei, terminei meu banho cedo e ela não
brigou comigo, isso era muito raro. Fomos à caminho da escola e
durante o percurso Richard Johnson, nosso vizinho de três casas nos
perguntou se queríamos uma carona até chegar à escola, já
estávamos na metade do caminho para a escola mas eu e minha irmã
decidimos entrar no carro e aceitar a carona.
Arrependo-me dessa carona até hoje. Perto de chegar à escola, Sr.
Johnson virou em uma estrada de barro deserta. Perguntamos-nos o
porquê e ele sacou uma arma e mandou que eu ficasse no carro calado,
então puxou a Mellody pelos lindos cabelos que ela tinha e a obrigou
a descer do carro. Eu gritava e ela pedia que eu ficasse calado, ela
olhou para mim chorando, e falou que me amava. Eu não sabia o que
ele iria fazer com minha irmã, então ele a obrigou a entrar no meio
dos matos que havia a beira da estrada e eu a escutava gritando.
Então me lembrei que todos os carros tinham extintores de incêndio
e então quebrei a janela do carro onde eu estava completamente
preso, eu escutava os gritos dela me chamando, eu tinha que ajudá-la.
Então quebrei o vidro do carro e o alarme logo disparou. Percebi que
o mostro do Johnson estava vindo ver o que havia acontecido e me
escondi atrás de uma lata de lixo que estava jogada no chão. Ele me
procurou, mas não consegui achar, entrou no carro e fez uma cara de
satisfação que me enojo até hoje. Quando ele foi embora eu corri
para ver onde minha irmã estava e gritei seu nome.
-Mel, por favor, me diz onde você está.
-Sai daqui Mike, não quero que me veja assim.
Ela soluçava de tanto chorar enquanto falava comigo, foi então que
a vi chorando, jogada no chão, com manchas roxas no pescoço e
mordidas pelo corpo. Ela estava apenas com as roupas íntimas e a de
baixo estava suja de sangue. Foi então que eu percebi o que havia
acontecido. Peguei-a e vesti-a com o meu casaco e ela pôs a saia,
abracei-a como jamais havia abraçado minha irmã e foi quando fiz
minha promessa.
-Eu te prometo Mel, que assim como eu vivo e como eu ainda viverei,
ele irá pagar pelo que fez. Ele irá pagar.
O ódio em minhas palavras soava com intensidade. E ela continuava a
chorar em meu ombro.
-Não Mike, não se preocupe com isso! Confirme a história de um
assalto, por favor. Apenas confirme.
Levei-a para casa e fiquei todo o tempo com ela até que nossa mãe
chegasse. Eu confirmei a história de um assalto e do estupro. No
outro dia eu fui só para escola e vi o carro do maldito passar como
se nada tivesse acontecido. O ódio dentro de mim ecoava com tal
intensidade que possuía cada centímetro do meu corpo.
Eu fiquei mais próximo de minha irmã e falava constantemente que a
amava, era algo que eu precisava dizer, eu nunca havia dito. Foi
então que três semanas depois eu a encontrei deitada na cama com um
vidro de medicamentos do lado, ela estava com o corpo frio, mole, não
tinha mais cheiro. Ela estava morta. Foi então que meu ódio foi
crescendo e me consumindo. Aquele homem havia provocado tudo isso.
Eu e minha mãe nos mudamos de bairro e eu cresci com aquele ódio em
mim. Eu iria cumprir justiça. Eu tinha que fazê-la.
Aos dezoito anos eu encontrei uma garota muito linda na escola, ela
era calouro e eu já era um veterano. Ela tinha cabelos claros que
combinavam perfeitamente com a pele clara e os olhos escuros. Era uma
combinação linda e perfeita. Conhecemos-nos melhor e logo começamos
a namorar.
Fui conhecer o pai dela e quando me vi estava frente a frente com o
mostro que causou todo o mau para minha irmã. Ela era filha de
Richard Johnson, eu nunca pude imaginar que poderia sentir tanto ódio
ao vê-lo. E não sabia como reagir em meio à situação. Eu amava a
filha do mostro e o odiava. Por sorte ele não me reconheceu, foi um
encontro rápido e sem muitas formalidades.
Eu jurei morte para ele e agora estava apaixonado pela filha. Eu
renunciei ao meu amor por Audrey Johnson e comecei minha vingança.
Seqüestrei o maldito e coloquei-o em um cubículo de paredes pretas
e sem iluminação, eu havia estudado métodos de tortura para
aplicar quando o encontrasse. Ele ficou apavorado com a sala escura e
com o tempo que ele estava lá ficou em um canto do cubículo, sua
expressão foi de medo. Eu abri a porta do cubículo e coloquei uma
lanterna no rosto do homem. Ele gritou de dor, e eu ficava mais
aliviado ainda com isso.
-Lembra de mim seu mostro? Eu sou o irmão da Mellody Evan Turner,
aquela garotinha de cabelos negros que você violentou, lembra?
-Você, é o namorado da Audrey... Eu? Lembro sim, ela era uma
gracinha o que tem isso?
-Ela se matou! Por sua causa. Por sua crueldade. Seu imbecil
monstruoso!
Então eu fechei a porta e deixei-o trancado lá. Já havia se
passado dois dias e eu o torturava com chutes, socos, e ainda não
havia começado a minha crueldade. Voltei ao cubículo e trazia
comigo um alicate. Amarrei o Sr. Johnson e peguei-o as mãos e
comecei a arrancar cada unha sua, o sangue escorria e a carne ficava
viva, vermelha, isso me confortava me causava alívio, era
confortante. Ele gritava de dor e eu ficava cada vez mais instigado.
Eu arranquei todas as unhas dele e ele chorava. Saí e deixei-o
jogado no chão, gritando, ele estava fraco, sem alimentação, e eu
me saciava com aquela cena.
Minha mente estava cheia de métodos de torturas e eu ficava cada vez
mais saciado com a dor dele. Era a minha vingança. Meu pai antes de
morrer disse que eu deveria tomar conta da minha mãe e da minha
irmã. Eu não consegui tomar conta direito da minha irmã, mas eu
posso tomar conta e proteger outras pessoas, outras crianças.
Foi então que eu tive toda a certeza que eu iria prosseguir com
aquilo, que eu iria continuar e iria até o fim com tudo aquilo que
eu planejei há anos. Era a minha vez.
Eu havia pesquisado que torturar os membros de uma pessoa fazia com
que ela se tornasse mais sensível ao toque e provocava grandes dores
nos pés, pernas, braços e mãos. Não hesitei em fazê-los sequer
um minuto. Peguei um taco de baseball e comecei a bater nas mãos,
penas, braços e pés, durante esses atos, Richard Johnson apenas me
implorava para que não o fizesse, ele gritava de dor e aquilo em
meus ouvidos soava muito esplendoroso.
-Por favor, Mike, por minha filha, não continue isso. Eu peço-lhe,
por favor!
-Não coloque sua filha nisso! Quantas meninas fora minha irmã você
machucou? Tire Audrey desse diálogo, ela não merece o pai que tem.
-Fora sua irmã, eu não machuquei ninguém. Ela era provocativa.
Foi nesse instante
que eu bati com toda a minha força o taco de baseball na barriga
dele e o fiz cuspir sangue.
-Como uma garota de quatorze anos poderia ser provocante seu canalha?
-Ela olhava pra mim e sempre sorria.
-Ela sorria para todos. Ela ainda brincava de bonecas.
Amarrei-o e levei-o para a parte exterior do cubículo. Era como uma
garagem velha e bagunçada. Coloquei a boca do maldito no escape do
carro e liguei todo o gás poluente que saía do carro, penetrava-lhe
nos pulmões e na sua corrente sanguínea. Ele desmaiou e foi quando
o levei novamente para o cubículo.
Saí do local e voltei a freqüentar a escola, vi a minha amada com o
olhar triste e solitário. Eu bem sabia o que causara tanta tristeza,
era o meu ser, embora ela não o soubesse. Eu a amava e ainda a amo.
Mas nada nem ninguém poderia me fazer desistir da vingança. Se eu
fui cruel? Não como ele foi com minha irmã. Eu fui apenas frio e
calculista, um pouco sanguinário, mas eu estava fazendo a justiça.
No outro dia cheguei ao lugar e abri o cubículo logo pela manhã e
levei-o para o sol. Os gritos de dor por ver a luz do sol eram
sinfonia para mim. Ele logo recuperou os sentidos e olhou para mim
com os olhos cheios de lágrimas.
-Não me machuque mais, por favor, peço-lhe. Não faça mais.
Com sorrisos e um pouco de ironia olhei para aquele rosto pálido, de
corpo ensangüentado pelos socos e toda a tortura.
-Você vai ter o mesmo destino que teve minha irmã. Com apenas uma
diferença. Você vai direto para o inferno.
As lágrimas do homem logo começaram a jorrar e ele se arrastou até
meus pés, pediu, implorou para que eu não o fizesse.
Foi então que eu peguei uma corda e coloquei no pescoço dele.
Levei-o para uma árvore que havia perto dali, era um lugar deserto e
sem pessoas, onde ninguém poderia encontrar-nos ou desconfiar que
estivéssemos ali. Então subi na árvore juntamente com Johnson e lá
amarrei a corda em um galho resistente e grosso que havia.
Senti um grande alívio quando o corpo do homem ficou dependurado no
galho pela corda. Seu sangue estava preso e sua cabeça estava roxa. O corpo do homem estava completamente mole e sem vida, foi quando
tive certeza que havia morrido, em seguida, atirei em sua cabeça fazendo com que os miolos do maldito voassem para todos os lados e meu trabalho estava cumprindo. Senti
paz e sossego depois de meu feito.
Liguei para a polícia e disse onde eu e o cadáver encontrávamos.
Não tive medo e não iria fugir afinal eu tinha matado uma pessoa e
tinha consciência que deveria cumprir uma pena por fazer mal à
família dele. O que ele deveria ter pensado quando fez todo esse mau
pra minha irmã. Fui preso e hoje estou aqui terminando de cumprir
minha pena. Se Audrey me perdoou eu não o sei. Mas minha mãe me
compreendeu, mas ainda sim não tinha aceitado aquela situação.
Arrependimento? Simplesmente não o tenho. E fá-lo-ia novamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário