Inglaterra, século XIX. A manhã gélida e cinza, lembrando o semblante de Atena, desperta uma sensação de medo em todas as pessoas que passam pelas vielas ainda mal iluminadas de Londres. Cada esquina possui uma poste aceso, mas que de nada adianta. A nuvem que se forma a dois palmos do chão é intensa e conhecer alguém significa encostar narizes ou bater cabeças. Apesar do medo, Londres fica belíssima por causa da brisa, sensual e cheia de suspense.
Dentro de seu quarto minúsculo, a menina francesa – alva e inocente – sofria desesperadamente pelo seu grande amor que partira, talvez definitivamente. Chorava incessantemente, agoniantemente e friamente. Cada lágrima que caía fazia parte de um teatro íntimo, particular, ímpar, singular, que ninguém poderia compreender. Tudo que a menina queria naquele momento era o seu amor, que ela matou.
O ódio instalado no coração – que alguns afirmam ser apenas um órgão (ou objeto?) com função idêntica de uma bomba de encher pneu – de alguém é algo incompreensível. Odeia-se alguém e ama-se ao mesmo tempo. É possível? Sim, é possível. Acontece até hoje. Talvez até Deus sinta essa contradição sentimental. Um amigo meu certa vez disse :
‘‘Falas de amor, eu ouço tudo e calo.
O amor da humanidade é uma mentira.
É. E por isso que em minha lira,
De amores fúteis poucas vezes falo’’
Interessante a verdade do amor que se transforma em ódio...
A menina sorria deliciosamente, pensando em seu amor que não voltaria mais e que o encontraria daqui a algum tempo, no céu ou no inferno. Toda a parede era marcada pelo nome de seu amor, com tinta com de sangue. E era o seu sangue mesmo. Toda essa agonia existente na mente (ou no coração?) da menina passaria se ela permitisse ver a vida da frente, aquela que ainda vem para nós.
Por exemplo, eu. Nunca vivi grandes amores. Quando vivi, eram sinceros. Morro pelos meus amores, pois são meus. Mas não posso deixar de viver e de ver o que ainda minha vida abre para mim. Mas a menina parece não querer ver.
Chega uma carta.
Letras turvas, 100% turvas. A menina lê. Entende e percebe que a letra turva deixa de ser totalmente turva. Comprendeu a explicação da carta. Sorriu. Chorou também. Assinava a sua paixão. Como se estava morta? O amor não morre; apenas, descansa.
Deixem o amor descansar, mas não o perca de vista. Ele volta mais forte, mais saudável.
Tenham vários amores.
Faryas y Albuquerque
Belissimamente!!!
ResponderExcluirQuando recomendaram seu blog, confesso que não ia olhar,mas não me arrependo de ter dado o primeiro clique, amei tudo e você escreve lindamente!
ResponderExcluirAbraços
A Cara da Poesia
Muito obrigada. É uma honra que tenha gostado!
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